Apesar de haver referência a processos
rudimentares de formas de impressão desde há milhares de anos, é somente em
épocas bem mais recentes que se intensifica o seu uso, estando entre as
justificativas principais para o seu desenvolvimento, a propagação religiosa.
De acordo com Silveira (1990, p.11), o uso da gravura foi
A princípio, uma forma encontrada
para a repetição da imagética religiosa. As preocupações de natureza puramente
artística só surgiriam mais tarde. O que interessou no primeiro momento foi a
reprodução de uma obra ou ilustração com a única intenção de arrebanhar um
maior número de pessoas.
A prática da gravura como processo
artístico, no Brasil, é algo que pode ser considerado extremamente recente, em
comparação ao acontecido na Europa. As referências mais antigas que temos,
remontam ao século XVIII e, segundo Martins Filho (1982), não ultrapassaram a
cinco, o número de artistas que atuaram em nosso país utilizando essa técnica,
todos eles religiosos desenvolvendo trabalhos de arte sacra. O que não foge ao
modelo referenciado por Silveira em seus estudos. Alguns poucos artistas
atuaram também no decorrer da segunda metade do século XIX, desenvolvendo
trabalhos em xilogravura e litogravura, muito mais como elemento de ilustração
para livros e periódicos do que como desenvolvimento artístico de produção em
série, como já acontecia há alguns séculos por toda a Europa. Convém lembrar
que para a existência dessa atividade, contribuiu a vinda da Família Real que
providenciou a criação no Rio de Janeiro, da Imprensa Régia, cuja atividade
contribuiu para a regulamentação tanto da gravação quanto da impressão em nosso
país. No entanto, o seu emprego como forma de referência das artes plásticas, só
veio acontecer de forma definitiva na segunda ou terceira década do século XX. Ainda
segundo Martins Filho (1982, p.29)
Responsáveis por uma nova visão
nas artes plásticas, numerosos artistas no fim do século XIX e início do século
XX definiram a gravura como forma de expressão artística no seu sentido
contemporâneo.
O reconhecimento da gravura no
Brasil começa a acontecer e ser compreendido como arte através da produção do
grande gravador Carlos Oswald que, apesar de haver utilizado em seu trabalho
várias formas e técnicas (desenho, aquarela e pintura sobre tela), foi com a
produção de gravura em metal que praticamente se projetou e elaborou sua grande
contribuição ao desenvolvimento das artes no país. E, se nesse primeiro momento
surge com tal importância a gravura em metal de Carlos Oswald, aparecem também
os nomes de Oswald Goeldi e de Lívio Abramo com a xilogravura.
Além de haver desenvolvido uma
grande produção com importantes trabalhos utilizando a técnica da gravura em
metal Carlos Oswald foi também um grande divulgador desse processo artístico,
lecionando tal técnica a partir do início da I Grande Guerra (1914) em locais
como o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas, a
Biblioteca Nacional e em seu próprio ateliê, contribuindo para o surgimento de
grande número de artistas especializados na técnica que, no decorrer do século
passaram a ser considerados como referência nas artes plásticas brasileiras
como Hans Steiner, Darel Lins, Renina Katz, Faiga
Ostrower e Poty Lazaroto, entre outros.
Darel Lins - gravura em metal
Hans Steiner - gravura em metal
Renina Katz - xilogravura
Surge então, juntamente com os
primeiros grupos de gravadores, os núcleos de discussão, debate e produção da
arte em gravura, destacando-se nesse processo o Clube da Gravura de Porto
Alegre, o Clube de Gravura de Bagé, ambos no Rio Grande do Sul e, no estado de
São Paulo o Clube da Gravura de Santos, com importante produção nas técnicas de
Xilogravura, Litogravura e Gravura em Metal.
Ampliando tanto conceito quanto
produção, no que se refere à gravura, surge também no século XX, o emprego do
processo serigráfico como forma de produção artística, sendo o seu
reconhecimento acontecido de forma demorada e com reservas por grande número de
colecionadores. Vai ser a partir da década de 1950 que sua utilização,
divulgação e reconhecimento acontecem, com a adesão de importantes nomes das
artes plásticas, como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral. Várias são as coleções
de arte que, hoje, incorporam peças serigráficas, como a particular de Mônica e
George Kornis, reconhecida internacionalmente e a coleção de caráter público,
pertencente ao Banco Central, que possui em seu acervo peças de Di Cavalcanti, Cícero
Dias, Alfredo Volpi, Beatriz Milhazes, Arcangelo Ianelli, Antonio Henrique
Amaral, Tomie Ohtake e Gonçalo Ivo, entre outros.
Di Cavalcanti - serigrafia
Volpi - serigrafia
Antonio Henrique Amaral - xilogravura
No entanto, qualquer que seja o
processo escolhido de reprodutibilidade, a base será sempre a peça original
denominada “matriz” que, em cada tipo de gravura terá uma forma específica de
preparo. Ângela Luz, ao falar sobre o trabalho de Anna Letycia (1998, p. 98)
diz que
O que determina a autoria da obra
pelo artista não é o ato da impressão, mas o da gravação propriamente dita. A
matriz é na realidade a gravura; a cópia é o registro de sua aparência visível
como retrato reprodutível do objeto. A matriz é única; a cópia é o múltiplo que
a revela,
o
que leva alguns artistas a investirem um tempo excessivo na elaboração de uma
peça para uso como matriz – principalmente no caso da xilogravura e da
calcografia – na maioria dos casos com tiragens reduzidas.
O desenvolvimento das artes em Goiás
pode ser considerado como um processo extremamente recente, se levarmos em
conta os quase três séculos passados de seu descobrimento e ocupação, desde o
período colonial até à atualidade. Considerando-se o fato de que as referências
existentes durante esse período estão todas representadas por viajantes e
cronistas estrangeiros que por aqui passaram e que o único artista local,
reconhecido como tal, seria, já na segunda metade do século XIX, o escultor
meiapontense Joaquim José da Veiga Vale, o que nos resta é a tentativa de
alguns artistas estabelecidos já na nova capital, no decorrer da década de
1940, em sua maioria com atividades ligadas à docência em escolas como o Liceu
de Goiânia e a Escola Técnica Federal de Goiás.
Se hoje, o estado pode se vangloriar da
existência de considerável número de artistas de reconhecimento nacional e até
mesmo internacional, como Ana Maria Pacheco, Siron Franco e Marcelo Solá, para
citar apenas três deles, está exatamente nos anos iniciais da década de 1950, o
incentivo e a base para o surgimento de um grupo inicial que gerou tudo o que
atualmente acontece, passados já pouco mais de meio século. Frei Confaloni e D.
J. Oliveira em um primeiro momento e Cleber Gouvêa, na sequência, foram os
grandes responsáveis pelo surgimento de uma nova arte no estado, com
características modernistas, iniciando com a pintura em tela e, como forma de
domínio sobre forma, figura e composição, o emprego de técnicas como a
aquarela, o desenho (carvão, lápis e nanquim) e, principalmente a gravura.
D. J. Oliveira - serigrafia
Cleber Gouvêa - serigrafia
Marcelo Solá - serigrafia
Tendo Cleber Gouvêa como primeiro
professor de gravura em metal, foi, no entanto D. J. Oliveira o grande
incentivador dessa técnica, tendo passado por seu ateliê, várias gerações de
novos artistas que se tornaram exímios gravadores. Passam a ser constantes os
trabalhos desenvolvidos em gravura em metal, a xilogravura e,
em menor intensidade, a litogravura. A serigrafia, quando aparece no cenário
artístico goiano, se estabelece de forma ampla e definitiva, despertando o
interesse inclusive daqueles que nunca se dedicaram a outros processos de
impressão.
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